Predestinação?!

12/10/2020

Mais um assunto polêmico a ser abordado por aqui. Predestinação? Eleição? Fé? Afinal o que a Bíblia diz a respeito dessas coisas? Primeiramente, só é possível entender esse texto se você já compreende a gravidade da depravação total tratada no estudo "Dark e a depravação total" (https://sword-of-truth.webnode.com/l/dark-e-a-depravacao-total/al/), então se você ainda não leu clica nesse link, leia e depois retorne. Em suma, foi visto que todos pecaram e nenhuma pessoa merece ser salva. Ninguém pode chegar pra Deus e dizer "Fiz a minha parte, agora seu dever é me salvar." Pois, nossa transgressão nos separou de tamanha forma que nada que possamos fazer pode nos reconciliar com o Criador. Apenas quando se entende o tamanho do pecado que nossos olhos são abertos para ver a dimensão da graça.

Portanto, o propósito do texto é expor diretamente o que a escritura revela sobre o tema, leia o texto até o final e tire suas conclusões sobre o exposto. É necessário reconhecer humildemente que, quer não gostemos ou entendamos, a palavra de Deus é inerrante e, se ela confronta nossas convicções, devemos nos submeter a ela.

Então vamos lá, o que a Bíblia fala a respeito da predestinação?

1. A doutrina da predestinação é vista explicitamente na escritura

(Efésios 1:4-5): "Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos PREDESTINOU para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade."

(Efésios 1:11): "Nele fomos também escolhidos, tendo sido PREDESTINADOS conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade,"

Efésios diz claramente que Deus nos ESCOLHEU desde antes da fundação. O plano de Deus desde toda eternidade passada foi de glorificar o Filho por meio da salvação daqueles a quem predestinou para usufruir de um relacionamento eterno com Ele.

(Salmos 65:4) "Como são felizes aqueles que escolhes e trazes a ti para que vivam nos teus átrios! Transbordamos de bênçãos da tua casa, do teu santo templo!"

(Romanos 8:29-30): "Pois aqueles que de antemão conheceu, também os PREDESTINOU para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou."

O termo "conheceu" aqui não se trata de saber da existência, mas se refere à uma intimidade ordenada antes mesmo que viéssemos a existir. Então, visto que a escritura, de maneira clara e explícita, aborda o assunto, vamos buscar entender o que, de fato, isso significa.

2. Como ocorre essa eleição?

Muitos dizem, com base em I Pedro 1:2, que a eleição acontece pela presciência de Deus. Bom, isso até que faz sentido, visto que Deus está acima da concepção de tempo e conhece intimamente o futuro. Porém, essa afirmação está incompleta. Se Deus olhou no futuro e viu nossa fé, então quem criou o futuro para que Deus o consultasse? Ora não foi o próprio Deus que o fez? E se o fez, Ele não só viu a fé como a designou. Ademais, a ideia que Deus nos elege por ver no tempo nossa fé enfrenta alguns problemas.

Primeiro, se Ele nos elegeu com base em algo que nós fazemos, a salvação não é mais pela graça, se torna uma retribuição de algo que foi feito. Paulo diz em Romanos 4 que a salvação não é como uma pessoa que trabalha e recebe seu salário, mas que é um presente gratuito de Deus. E continua no capítulo 11 dizendo que se a salvação fosse por nossas ações, a graça já não seria mais graça. A graça é um favor imerecido totalmente gratuito e que não depende do que fazemos ou dizemos. Se Deus fizesse 99% do trabalho e nos pedisse para fazer apenas 1%, já não existiria o dom GRATUITO que ele dá e graça já não seria graça.

Segundo, foi visto no artigo sobre a depravação total que o Homem não deseja, não pode e nem consegue escolher a Deus. Logo, a fé salvífica não é uma ação humana, pois não conseguimos decidir crer verdadeiramente. Em João 16, Jesus fala que é o Espírito Santo que nos convence do pecado e do juízo; como alguém que não foi tocado pelo Espírito pode se arrepender e crer? Ou seja, só crê aquele que o Espírito conduz a fé.

Se somos salvos pela fé e essa não vem de nós, então não temos participação nem mérito na salvação. Se fosse por uma escolha eu poderia chegar para Deus e dizer "Eu mereço mais a salvação do que aquela pessoa, porque eu decidi crer e ela não." Mas, isso não é possível. O evangelho não dá espaço para o orgulho. É justamente por saber que não há nada em nós que nos permita ser salvos que compreendemos a profundidade da graça de Deus, nos colocamos em posição de humildade e de uma enorme gratidão. Por isso, a eleição é incondicional.

(Efésios 2:8-9) "Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.

Somos salvos pela graça por meio da fé, devemos reconhecer que a fé não provém da vontade humana, mas da ação de Deus. A fé, o meio pelo qual somos salvos, é gerada em nós, pois conforme Hebreus 12:22, Jesus é o AUTOR e CONSUMADOR da nossa fé.

A fórmula de concórdia afirma expressamente a ideia de eleição incondicional como podemos ver no artigo XI da declaração sólida: "A eterna eleição de Deus, porém, não só se vê e sabe antecedentemente a salvação dos eleitos, mas, por graciosa vontade e beneplácito de Deus em Cristo Jesus, também é causa que cria, opera, ajuda e promove a nossa salvação e tudo o que a ela pertence." As confissões luteranas condenam, também, qualquer tipo de eleição condicional ou a vista de ações humanas: "[condenamos] Igualmente a doutrina de que não é apenas a misericórdia de Deus, o santíssimo mérito de Cristo, mas que também há em nós uma causa da eleição de Deus, em virtude da qual Deus os elegeu para a vida eterna."

3. Se Deus é autor da nossa fé, Ele a concede para quem ele quer

Aqui encontramos um ponto difícil de compreender e, certamente, também duro de aceitar. Se a fé provém de Deus, Ele a concede para quem ele soberanamente escolhe. Veja o que Jesus disse sobre isso:

(Mateus 22:14): "Pois muitos serão chamadas, mas poucos serão escolhidos"

(João 5:21): "Pois da mesma forma que o Pai ressuscita os mortos, o Filho também dá vida a quem ele quer."

(João 6:44)" Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia."

Contudo, o texto mais forte a respeito da escolha soberana de Deus (e até mesmo desconfortável para o entendimento humano) está em Romanos 9.

(Romanos 9:10-13): "E esse não foi o único caso; também os filhos de Rebeca tiveram um mesmo pai, nosso pai Isaque. Todavia, antes que os gêmeos nascessem ou fizessem qualquer coisa boa ou má- a fim de que o propósito de Deus, conforme a eleição, permanecesse, não por obras, mas por aquele que chama-, foi dito a ela: "O mais velho servirá ao mais novo" Como está escrito: "Amei Jacó, mas rejeitei Esaú."

Veja, antes mesmos das pessoas nascerem, de terem feito qualquer coisa boa ou má, Deus, em sua soberania, escolhe, para que não seja sobre nós, mas pela sua soberana misericórdia.

"Nossa, mas isso seria muito injusto. Se a eleição é incondicional, por que escolher uns e não outros?"

Bom, responder essa questão é realmente muito difícil, pois se refere aos propósitos de Deus. Talvez Ele tenha algum motivo para sua escolha, mas esse motivo não está em nós. Paulo adianta essa pergunta e responde na própria Bíblia:

(Romanos 9:14-15,19-20): "E então, que diremos? Acaso Deus é injusto? De maneira nenhuma! Pois Ele diz a Moisés: "Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão" Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus." Mas algum de vocês me dirá: "Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois quem resiste à sua vontade?" Mas quem é você, ó homem, para questionar a Deus? "Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: 'Por que me fizeste assim?'"

É verdade que esse texto é, de certa forma, frustrante. Quando achamos que Paulo iria nos esclarecer o motivo das escolhas de Deus, ele apenas nos diz que Ele soberanamente decide e que seus propósitos secretos não podem ser questionados. Mas aqui é fundamental lembrar do que foi exposto no texto sobre a depravação total. Ninguém é merecedor da salvação. Todos se rebelaram contra Deus e, se Ele quisesse, poderia condenar todo mundo e continuar sendo justo. Mas Deus decidiu salvar pecadores! Se todos merecem a condenação, Ele não se torna injusto por escolher alguns para a salvação, ao contrário, Ele mostra sua misericórdia.

"É injusto porque se Deus predestinou alguns para a redenção, predestinou também outros para a perdição."

Na verdade, a bíblia diz que Deus não nos predestinou ativamente para ira, mas para a salvação (1 Ts 5.9). A fórmula de concórdia, baseada em textos como 1 Tm 2.4 e muitos outros admite que, apesar de nem todos serem salvos, Deus deseja e oferece realmente a salvação a todos (Art XI declaração sólida).

Foi visto no texto sobre a depravação total que não temos mais o livre-arbítrio porque estamos maculados pelo pecado original que nos aprisionou. Porém, quando estávamos unidos em Adão, escolhemos livremente comer do fruto, decidimos deliberadamente nos rebelar contra Deus. Então, a partir daí todo o desejo e as motivações humanas são voltadas para o mal.

Por essa razão, a Bíblia diz em Romanos 1 que essas pessoas foram entregues ao seu próprio coração, para seguir o caminho que elas mesmas ESCOLHERAM. A predestinação não significa que Deus colocou uma barreira para que os não-eleitos fossem impedidos de chegar até Ele, mas que os deixou seguir seu próprio coração que já o havia rejeitado. A escritura diz que o homem é plenamente responsável por sua própria condenação, mas que não tem mérito algum na salvação. Deus em sua soberania quebranta os corações dos eleitos e os inclina a crer, mas, em seu justo juízo, permite que os não-eleitos vivam nos seus próprios caminhos.

Respondendo perguntas e objeções

"Se aqueles que foram predestinados irão crer, por que, então, Jesus mandou pregar o evangelho à todas as pessoas?"

Porque a mensagem do evangelho é o meio que Deus usa para chamar as pessoas e nos exorta a participar dele. É necessário ouvir a Palavra de Deus. Deus realmente chama todas as pessoas e oferece a graça salvífica mediante a pregação do evangelho e nos usa para pregá-lo para todas as nações.

(Romanos 10:14 e 17): "Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue?... Consequentemente, a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo.

"João 3:16 e Romanos 10:9 dizem que todo aquele que crer no coração e confessar com a boca que Jesus é o Senhor será salvo, isso não quer dizer que qualquer pessoa pode fazê-lo?

Sim, é verdade. A salvação vem pela fé. Mas quem são aqueles que creem? Como as pessoas não podem livremente escolher crer, a Bíblia diz que é Deus quem abre o coração, concede a fé e o reconhecimento de Cristo, como S. Agostinho diz no livro "A predestinação dos santos" A eleição é causa da fé e não contrário. Deus torna nolentes em volentes. 

(Atos 16:14) "Uma das que ouviam era uma mulher temente a Deus chamada Lídia, vendedora de tecido de púrpura, da cidade de Tiatira. O Senhor abriu seu coração para atender à mensagem de Paulo.

(Atos 13:48): "Ouvindo isso, os gentios alegraram-se e bendisseram a palavra do Senhor; e creram todos os que haviam sido designados para a vida eterna."

Jesus disse: (João 15:16) "Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai conceda a vocês o que pedirem em meu nome."

Veja que Romanos 10:9 diz que a salvação vem pela fé em reconhecer Cristo como Senhor, mas quem abre nossos olhos para que possamos fazer isso é o próprio Deus. 

(Mateus 16:16-17): "Simão Pedro respondeu: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. Respondeu Jesus: 'Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não foi revelado a você por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus.'"

" Como saber se sou eleito?"

Se em seu coração creres com toda a convicção que Jesus é Senhor e que só depende dele para a sua salvação, lhe foi concedida a fé. A fé verdadeira produz frutos. Jesus disse que se conhece uma árvore por seus frutos e que ele é a videira na qual estando nela daremos frutos. Se sua vida produz boas obras, obediência e os frutos do Espírito, tens a evidência da sua salvação. Além disso, Cristo instituiu os sacramentos para nutrir nossa fé, comunicar graça e renovar nossa certeza na salvação que Jesus conquistou para nós. Não devemos então ter medo de não sermos eleitos, mas descansar na graça de Deus que é oferecida nos sacramentos. Como dizia Lutero: quando o diabo quiser o tentar lançando dúvidas sobre a sua eleição, responda: Para trás! o perdão de Cristo chegou especialmente para mim no batismo e ele renova esse perdão mediante a absolvição e a eucaristia.

Para quem não entende, essa doutrina gera muita hostilidade, mas para aqueles cujo o Espírito fez entender, é a expressão da graça de Deus. A fé é uma troca de confiança, é de deixar de confiarmos em nós mesmos e reconhecer, colocando nossas esperanças naquele que já pagou o preço e nos deu a salvação gratuitamente. Isso traz um incomparável alívio para alma. Eu mesmo não posso, não consigo e não mereço, mas mesmo assim Ele me amou e se entregou por mim. Isso nos faz cair de joelhos e expressar como dizia Agostinho: "Por que eu? não há nada em mim para me amares!" Em vez de nos fazer orgulhosos, nos faz humildes por reconhecer que nada dependeu de nós. Nos enche de paixão por Jesus Cristo, nos motiva a obedecer a seus mandamentos e pregar sua palavra. É a perfeita expressão do amor de Deus pelos pecadores.

(2 Timóteo 1:9): "Foi ele quem nos salvou e nos escolheu para o seu santo trabalho, não porque merecêssemos, mas porque esse era o seu plano muito antes do princípio do mundo: mostrar o seu amor e a sua graça para conosco por meio de Cristo Jesus." 

Mateus Magalhães
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